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Título: DIGITALIZAÇÃO DE SI E TRANSMASCULINIDADES:
A CONSTITUIÇÃO DE SUBJETIVIDADES GENDRADAS E A
PRODUÇÃO DE SABERES NO FACEBOOK

Autor: Sérgio Rodrigo da Silva Ferreira

Ano: 2020

Resumo:  A transgeneridade masculina diz respeito às pessoas que não estão em conformidade com o gênero que lhes foi atribuído pela cisgeneridade compulsória e que se constituem e seexpressam como sujeitos no espectro das masculinidades. Entendemos cisgeneridade compulsória como a lógica normativa binarista e biologizante que atrela invariavelmente uma materialidade do corpo em suas características sexuais a uma identidade de gênero. Nesta tese, pelo método genealógico e com uma estratégia de coleta e análise de dados de caráter qualitativo, conversamos com homens trans e analisamos suas produções na plataforma de rede social Facebook com o objetivo de compreender o agenciamento tecnológico sobre a produção de subjetividades gendradas. Apresentamos os resultados evidenciando a constituição mútua de uma racionalidade na conduções dos sujeitos na dimensão micropolítica (governamentalidade), daqueles discursos que são considerados verdadeiros (veridicção) e dos modos que nos tornamos e somos tornados um “Eu” com certas e pecificidades (processo de subjetivação) e seus atravessamentos tecnológicos sobre corpos e práticas digitalizadas de sujeitos transmasculinos. Como resultados, temos que o Facebook é utilizado pelos interlocutores para se informarem, debaterem, se expressarem, se organizarem, se conhecerem, se relacionarem, ajudarem e serem ajudados por outras pessoas, para fins profissionais e de entretenimento. Ele permite também acesso a informações cruciais sobre transgeneridade (autorreconhecimento, hormonização, organização política, direitos e legislações, acesso a serviços etc.) e sobre políticas das masculinidades. Também é apontada como uma rede que fomenta uma performance militante sobre causas políticas. Do ponto de vista da masculinidade, a produção on-line desses homens busca desnaturalizar a masculinidade cisgênera e normalizar as transmasculinidades em seus aspectos constitutivos. Sua produção se articula especialmente em discursos que afirmam que são homens “de verdade”, mesmo sem um pênis de carne fixado o corpo, mesmo sem serem violentos, mesmo com um corpo construído com tecnologias sexuais, passando por transição ou não, mesmo tendo que juridicamente retificar prenome e sexo, e mesmo podendo engravidar. A articulação vai na produção de normalidade para as identidades transmasculinas como um campo de batalha semiológico. Configura-se também no movimento teórico de afirmação das identidades cisgêneras como forma de desnaturalizar suas dinâmicas, hierarquizações e ações de estigmatização, marginalização e desumanização daqueles corpos que estão em desacordo com suas matrizes normativas. Entretanto, ao considerarmos a governamentalidade algorítmica e a mineração de dados que ocorrem no Facebook, chegamos à conclusão de que as inserções entre as vivências e as estratégias de autoregistrar-se, narrar-se e relacionar-se nessa ambiência estão constantemente gerando dados consentidos ou não pelos usuários. Esses dados são capturados ainda não organizados, tratados e estruturados na criação de um perfil baseado n s relações entre eles (perfil que não corresponde ao sujeito “real”, mas a uma produção maquínica a partir dessa relação de dados). Como resultado, temos, de um lado, uma maior coesão de ideias comuns de afinidade entre homens trans, o que facilita articulações políticas entre eles, mas que, de outro, cria um ambiente imunizado para a possibilidade da diferença.

Palavras-chave:  Subjetividade. Gênero. Transmasculinidade. Transgeneridade.
Masculinidade. Facebook. Tecnologia Digital. Comunicação Digital. Internet.